quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Para não dizer que não falei de sacanagem.

Já tem um tempinho que eu não falo de sacanagem aqui no blog. Estou estudando tanto que até me esqueci que sexo existe. Tá, mentira... rs. Mas eu quase não tenho falado disso, o que me salva são as letras de funk que sempre rolam nas festinhas e que fazem o assunto mais interessante do mundo virar tema de conversa.

Outro dia eu estava me lembrando de um debate louco que rolou lá na comunidade do curso de História. Começou com um post inocente (meu, claro...rs) em que eu anunciava uma choppada e ressaltava a importância da presença masculina devido ao funk que sempre leva a mulherada a loucura. Aí, alguém chegou e disse que ninguém aguentava mais o funk e tals. Eu rebati dizendo que quando a mulherada rebolava, bem que ele gostava... mas ele teve a infeliz idéia de postar que toda mulher que canta ou dança funk não merece respeito. Nem preciso dizer que a porrada rolou pelo orkut, neah? Rs.

O que mais me intriga nessa coisa toda do funk "putaria" é a necessidade de algumas pessoas em dizer que a mulher é um objeto, que a imagem dela é denegrida o tempo todo, que não há respeito e blá, blá, blá. Olha, eu sei que tem muito funk tratando a mulher como uma boneca inflável, mas sinto informar que se alguém canta "se eu tô bancando essa mulher é porque eu tô comendo" é porque esse é um retrato (triste? não sei...) da nossa sociedade. Reconheço que não sou a melhor pessoa para fazer comparações do funk com o que eu estudo, mas até onde eu sei o funk nada mais é que uma manifestação cultural, e as manifestações condizem com a sociedade em que são manifestadas. Dessa forma, o funk reflete a banalização do sexo (talvez seja bom...rs) no mundo em que vivemos. Se eu puder, um dia, quando eu for doutora e tals, farei um trabalho de pesquisa sobre isso. Rs.

Apesar dos Mcs cantarem músicas que falam de mulheres "lanchinho da madrugada", de fiés e amantes, da poligamia excrachada que sempre vivemos mas nunca admitimos, na contramão, surgiram as Mcs que cantam "Porque eu dô pra quem quiser/ Que a porra da buceta é minha", ou que também possuem amantes e eles brigam por ela. Não há mais em quem pôr a culpa, não existem mais vítimas nesse meio. Com batidas fáceis e letras sem nenhum apoio do Bechara eles conseguiram gritar aquilo que a sociedade há tempos vem observando e encobrindo: A liberdade sexual. Seja homem, mulher ou travesti, todos tem direito a subir num palco, cantar suas letras e esplanar sua privacidade da forma mais crua. Não sei se é moral, imoral ou amoral. O que eu sei é que essa é uma mostra da realidade da nossa sociedade, e isso não podemos negar.

Vão dizer que são todos analfabetos, que não há tratamento das letras, que elas não seguem regras musicais e que ninguém passou horas bolando harmonia, composição e sei lá mais o que que é necessário para se fazer uma música. Mas, gente, nós estamos falando de algo que é criado apenas como uma expressão do que se vive, do cotidiano. Não há referências musicais de grande porte. Tudo bem que vão dizer que o Cartola era um fudido, mas sabia fazer letras belíssimas e tudo mais... mas não é isso! Não há referência, hoje, do estético e do bem feito. A referência que se tem é de praticidade e rapidez sem recurso, sem métodos, sem dependências. É o "pá-pum" para se fazer entender num lugar onde não se pode esperar muito para as coisas acontecerem. A manifestação tem de ser direta, sem metáforas.

Mas eles saíram ganhando porque o sexo atrai as pessoas, e quando é falado de forma despida atrai mais ainda. E o funk ganhou espaço na mídia e em todas as festas que vou. Eu nunca tive problemas para falar de sexo, sempre discuti isso com as amigas e nunca me espantei com as letras porque elas falam exatamente o que eu digo, por isso essa identificação e satisfação com o funk. Claro que eu não acho legal crianças cantando letras com palavrões, mas nós, adultos, fazemos tudo ou mais do que é tocado nos bailes funk. Não sei o por que da hipocrisia que gira em torno desse assunto. A verdade é que dançar e cantar a libido é próprio das pessoas, o sexo é instinto.

5 comentários:

Cesar disse...

Tudo bem, mas a questão não é fazer ou não fazer, gostar ou não gostar. Tem um problema de fundo, grave e importante, a saber: progressivamente a cultura brasileira vai se reduzindo a uma questão de instintos. Uma grande parcela da população urbana jovem consome diariamente produtos culturais que falam basicamante de sexo e violência - nus e crus. A sociedade brasileira está numa espécie de trajetória regressiva, desumanizando-se um pouco mais a cada dia (e animalizando-se, por conseguinte), e essas manifestações culturais "cruas", vamos dizer assim, expressam esse estranho devir animal do país e que parece um marca recente da nossa historia (pós anos 60). Sinceramente, eu não acho bom; por muitas razões - qualquer dia (do ano que vem) podemos falar com calma sobre elas.

Cesar disse...

Virar bicho de vez em quando faz parte e é até bom. Mas, contanto que seja de vez em quando, em certos contextos. Humanizar-se é, no fim das contas também abrir espaço para a delicadeza aparecer.

Dá uma olhada nisto:
http://www.youtube.com/watch?v=zzQMl0p4ajw

O Brasil nem lembra mais e nem imagina mais ser outra coisa que não a crueza, a rudeza, a explicitude. Mas não precisa ser assim. Aliás, nem é bom que seja só assim.

Bjs

Clau disse...

Esse video me lembrou uma mostra de dança no teatro da UERJ, em que havia um dueto com dois homens, e sutilmente dava a idéia dos conflitos de um amor fora dos padrões... hehe. Me lembro que eu era bem nova e achei aquilo muito revolucinário para época, deve ter sido há uns dez anos atrás ^^... huahua.

Clau disse...

Voltando para o texto...
Professor, eu nasci numa época de tchans, carla perez e de uma apresentadora
sexy de programas infantis. Para boa parte da minha geração, é normal cantar o sexo
e não fazer o uso da sutileza. Mas falar disso tudo mez pensar na questão da moral,
porque outro dia eu precisei ler um texto de Ortega y Gasset e nele tinha a idéia de
que o homem-massa se vislumbra com a imoralidade porque nela ele não vê obrigações,
e o que o homem massa menos quer são as obrigações com a sociedade, e se esclarecer
também leva a obrigações, e por isso não percebe a necessidade de ser um esclarecido.
O funk, para mim, é apenas uma forma de diversão... mas e se pensarmos que ele talvez
seja um termômetro, um medidor da situação social? As manifestações culturais não são
demonstradores culturais? É nisso que pensei quando fiz o texto. Claro que pela forma
que é feito também pode nos mostrar o por que de ser tão cru... tão explícito.

Clau disse...

Realmente, essa questão de tratar tudo pelo instinto não é correta,
uma vez que nos diferenciamos dos demais animais por conseguirmos sobrepôr nossa
razão a ele. Mas é válido por dar um parâmetro de qual sociedade vivemos... rsrs.
Não considero que tudo deva ser sutileza, assim como nem tudo deva ser rude.
Existe um equilíbrio, há o que é próprio para cada ocasião, assim como usar vestido de
gala ou roupa de banho... huahuahau. O que eu considero é que a saída seria o encontro
desse equilíbrio.
Hoje saiu até uma reportagem no jornal O Globo sobre uma exposição com fotografias
de Dani Dacorso sobre o mundo do funk, que acontecerá no Ateliê da Imagem, na Urca.
Ela dá um panorâma dos bailes funk do Rio. Há uns meses atrás saiu um documentário de
uma alemã que também fez um documentário sobre o funk nas favelas do Rio...
só não me lembro o nome dela e nem o nome do filme... huahauha. Daqui há um tempo
o funk vai se tornar linha de pesquisa... rsrs.

Beijos.

Adorei sua visita.