segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

No samba.

Quando subi a rua da minha escola de samba, eu já sabia com qual sensação eu voltaria para casa. Quando passei pela roleta da portaria, eu tinha a certeza que não dava mais para voltar. Pelo menos até a hora em que o ensaio acabasse.

Eu não desfilo, não sou conhecida pela velha guarda e quase não sou notada por lá. Isso não me importa. O que me importa, na verdade, é sambar como forma de agradecer pelo prazer que me proporcionam todas as vezes que meus pés pisam naquela quadra.

Eu não vou embora enquanto a bateria estiver tocando. Nem que meus pés já estivessem sangrando... Aliás, eu nunca os sinto doer quando sambo. Eles só doem quando eu paro, talvez seja um aviso para não parar mais. Portanto, eu só saio quando o silêncio reinar.

Não não sei exatamente desde quando eu percebi toda essa energia que me cerca e me invade quando ouço a bateria, talvez tenha começado quando desfilei pela primeira vez, aos 8 anos de idade. A sintonia da batida do meu coração com as marcações dos instrumentos me fizeram perceber que a vida é como sambar. Há momentos em qua há deslizes, erros de passos, mudanças de ritmo, graça, beleza... a até um pouco de dor, mas ninguém quer deixar de viver, ou sambar. Pelos menos a grande maioria.

O ambiente onde existe o samba me transforma. Ele enche minha alma com tanto prazer que eu não sei o que se passa pela minha mente. Os movimentos dos meus pés e dos meus braços seguem a acelerada batida, mas também mantêm toda a graça e a beleza de alguém que reverencia a vida.

Tudo que eu queria era que esses ensaios durassem o ano inteiro, que o Carnaval sempre estivesse próximo, só para eu passar novamente por aquela roleta e só sair quando a bateria fosse calada pelo fim de mais um ensaio.


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